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De bicicleta, 1 ano de ciclovia na Av. Paulista

Há quase um ano era inaugurada a ciclovia da Av. Paulista, no canteiro central. No último domingo (26 de Junho de 2016) vários ciclistas se reuniram na Praça do Ciclista para comemorar este aniversário. Comemorei também: c0memorei ZERO amigxs perdidxs neste ano que passou. Quem me conhece, sabe que perdi pessoas queridas ali. A festa foi linda, apesar da ciclovia sempre ser uma lembrança que temos dificuldade de conviver em sociedade e compartilhar espaço com nossxs semelhantes. Obrigado a todxs que sonharam juntxs para que esta ciclovia existisse. Obrigado a todxs xs membrxs da Câmara Temática de Bicicleta, da Ciclocidade, do CicloBR, da Minha Sampa e muitxs outrxs que brigam sempre para que a Paulista mostre para a cidade que a democratização do espaço público e a convivência pacífica entre pessoas é possível. A festa é nossa. Descansamos e seguimos lutando.

Fotos: Rene Jose Rodrigues Fernandes

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De bicicleta, pela ciclovia da Av. Paulista

Uma semana antes da inauguração da ciclovia da Av. Paulista decidi dar uma volta por ela. Mesmo sem estar totalmente desobstruída, cruzei com vários ciclistas e um skate. Não houve conflito com pedestre. Nunca pedalei com tanta tranquilidade entre minha casa e o trabalho. Parabéns a todos os envolvidos no esforço de transformar esta cidade em um lugar mais “humano”.  O resultado está aí, em vídeo, para quem quiser ver.

@renejrfernandes

De Bicicleta, pelo Centro

Bicicleta-Mariana-Mazzini

Post convidado de Mariana Mazzini Marcondes

Antes tarde do que nunca fui estrear minha nova bike nas “ciclovias do Haddad”, no centro. É destas coisas que se tem que fazer. Depois da primeira volta você já vai querer usar bicicleta até para pegar um copo d’água na cozinha.
A começar pelo cenário. Quem desenhou o itinerário das ciclovias do centro não devia ser engenheiro de tráfego, mas artista. Para quem, como eu, vive, ama e respira o centro (a ponto de irritar os amigos de outras vizinhanças) prepare o lencinho e o coração. É simplesmente a forma mais bonita de passear pelas redondezas. Para quem não conhece muito bem o centro, vale a pena tirar um dia inteiro para pegar uma bike e seguir a estrada de tijolos vermelhos. Ela te levará para a Sé, São Francisco, Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, São Luís, República, Arouche, Luz…

A estrada de tijolos vermelhos, contudo, ainda tem alguns problemas. A sinalização é o maior deles. O Código de Trânsito te diz que você é um veículo, teu instinto de sobrevivência, que você está melhor com os pedestres… O trecho de entrada na São João, saindo da República, é com emoção, assim como alguns trechos da Luz. Se bem que é também uma das partes mais bacanas. Eu nunca tinha chegado de forma tão triunfal na Sala São Paulo. Mas, lembre-se, é um projeto inovador e em construção! Tem também um lance de se sentir um pouco dentro de um vídeo game. Você tem alguns inimigos na sua aventura sobre duas rodas. E os carros, claro, são os piores deles (se bem que os ônibus não ficam atrás). É aquela coisa. Você já sabia que eles eram malvados. Mas você também sabia que a Bellatrix era uma comensal da morte, mas quando ela lança o Avada Kedavra sobre o Sirius Black (SEU personagem favorito) você entende o que é o ódio. É um pouco esta a sensação que você tem quando escuta de um carro “está achando que só tem bicicleta na cidade agora”. Aconselho respirar fundo. Seria como a primeira colocada no concurso de miss se pegar pelos cabelos com a terceira. Dê um tchauzinho simpático. Eles já perderam.

Os pedestres não são das criaturinhas mais fáceis também. Eles andam na ciclovia, fingem que não estão vendo sua bicicleta e se comportam como suicidas bêbados. Mas, nesse caso, vale a pena ver o lado deles. Antes das ciclovias chegarem, o mundo do centro se dividia entre veículos e pedestres. Agora, existe você, com sua bicicleta. Ao fim, eles são potenciais aliados. Então seja gentil e amável. Estamos em uma batalha pelo espaço público mais humano. E pedestres são amigos. Mesmo quando eles andam com carrinho de bebê ocupando as duas faixas. Na verdade, a definição do que é ou não bicicleta é bastante relativa. Carrinho de bebê, carregamento, carroceiro, skate, carrinho de rolimã… Tem roda, está na ciclovia. O que significa o dobro de atenção. E de gentileza. E de paciência. E de “mais amor, por favor”. Mas, depois de quase 2 horas perambulando pelo centro com a minha nova companheira, descobri uma coisa incrível: os ciclistas. Sempre que passa uma bicicleta rola toda uma empatia, uma faz festinha para a outra. Claro, você agora pertence a essa sociedade secreta que tem feito a cidade muito mais colorida e divertida!

De bicicleta, hoje foi um daqueles dias…

Hoje foi um daqueles dias em que a Helga me liga e fica questionando a razão de insistirmos em andar de bicicleta pelas ruas de São Paulo. Hoje foi um daqueles dias que todos os ciclistas urbanos ficam consternados com a violência do trânsito e vão juntos manifestar. Hoje foi um daqueles dias em que a Polícia Militar e a CET se solidarizam a você e ficam ao seu lado. Hoje foi um daqueles dias em que os meios de comunicação olham para um fato e decidem transformá-lo em notícia. Hoje foi um daqueles dias que seu pai deixa um recado pedindo para você não fazer parte das estatísticas. Isto tudo porque hoje foi mais um daqueles dias nos quais um pai, um avô, um tio, um vizinho, um amigo, um colega e um trabalhador morre pedalando em uma das vias mais importantes de São Paulo, a Avenida Sumaré.

Hoje foi o dia em que morreu o ciclista Antonio Bertolucci, um senhor de 68 anos que, segundo relatos da família, possuía mais de 15 bicicletas e pedalou durante a maior parte da sua vida. Ele morreu atropelado por um ônibus ao fazer um passeio matinal de rotina entre sua casa, uma bicicletaria, a padaria e a casa do seu filho. Apesar de não conhecer o Sr. Antonio, o que deixa indignado é saber que poderia ter sido eu, poderia ter sido a Helga, poderia ter sido qualquer um dos meus amigos que usam a bicicleta como meio de transporte ou poderia ter sido você, como aconteceu com os 49 ciclistas que foram atropelados e mortos em São Paulo em 2010 pela falta de educação e respeito às leis no trânsito e pela omissão dos governos e seus órgãos.

O Código de Trânsito Brasileiro é claro ao reconhecer a bicicleta como um veículo de transporte e estabelece obrigações aos motoristas de veículos automotores como: guardar a distância lateral de um metro e cinqüenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta (Art. 201), reduzir a velocidade ao ultrapassar um ciclista (Art. 220), ceder passagem aos pedestres e ciclistas durante a manobra de mudança de direção (Art. 38), além do estar bem explícito que os veículos maiores são responsáveis pela segurança dos veículos menores e dos pedestres. No Código e em leis estaduais e municipais há também uma série de dispositivos que obrigam o Estado a garantir a segurança viária. O Art. 24 do CTB, por exemplo, estabelece que compete aos municípios “planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas”. Oficialmente a cidade de São Paulo tem aproximadamente 80 KMs de vias adequadas ao uso de bicicleta, mas só 20 KMs funcionam para o transporte urbano. Em todos os outros milhares de quilômetros de vias em São Paulo o ciclista tem que sobreviver por seus próprios meios, enfrentando os carros, os ônibus, as motocicletas, os buracos e a falta de sinalização.

O dia terminou com um protesto. Mais de 100 ciclistas e alguns familiares do Sr. Antonio, com o apoio da PM e da CET e cobertura da imprensa, se reuniram no local do acidente para uma manifestação e a instalação de uma Ghost Bike. Foram pintadas várias bicicletas na Av. Sumaré e na alça de acesso, além da frase “DEVAGAR VIDAS”. Com isto nós esperamos chamar atenção das pessoas e das autoridades de trânsito e não termos que nunca mais colocar uma Ghost Bike nas ruas de São Paulo.

Para a Helga, para os ciclistas e para órgãos públicos de trânsito eu deixo a frase do Caio Fernando de Abreu que circulou hoje na lista da Bicicletada: “E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda”.

Para o meu pai, fica a Nara Leão: “Podem me prender, podem me bater /
Podem até deixar-me sem comer. Que eu não mudo de opinião […] Se eu morrer amanhã, seu doutor / Estou pertinho do céu”.

Nada paga o vento no meu rosto, a rapidez na locomoção, a facilidade para “estacionar”, o baixo consumo de combustível, fazer exercício físico, conhecer pessoas, entre outras tantas outras coisas que a bicicleta proporciona. Acho que vale a pena lutar por esta causa sendo mais um nas ruas. Vou incomodar bastante ainda e, se eu morrer amanhã, doutor, estou pertinho do céu.

@renejrfernandes

Veja as reportagens: UOL http://bit.ly/irkTMT TERRA http://bit.ly/kmGsr8  G1 http://glo.bo/lbmVGL  IG http://bit.ly/kfCve8  Jornal da Globo http://glo.bo/m0xm5a.

Sem bicicleta em Cascais

Eu me encantei com Cascais muito antes de colocar os meus pés na Terrinha. Pesquisando sobre Portugal na internet, eu descobri que nos arredores de Lisboa existia um vilarejo muito charmoso, cujas sardinhas assadas, assim só por imaginar, já davam água na boca. Mas além das sardinhas e do espetacular mar português estalados na tela do meu computador, o que realmente fez meus olhinhos brilharem de satisfação foi quando li que em Cascais há uma ciclovia imensa bem ao lado da orla. E, como se não bastasse isso, o governo local cede bicicletas aos turistas para que possam aproveitar a cidade. Isso tudo sem cobrar nenhum Euro, o que foi o ponto de partida para que os meus pedais imaginários percorressem aquele lugar encantado sem muito esforço.

Quando pisei em Portugal passei meus primeiros dias por Lisboa e reservei o quinto dia para a tão sonhada Cascais. Era um sábado de sol e céu azul. Comprei a passagem do comboio (o famoso trem para o português brasileiro) e segui alegre, feito uma criança, na janelinha sonhando com meu dia perfeito. Logo que cheguei já dei de cara com uma série de bicicletas vermelhas, que lá se chamam “bicas” e abri um sorriso satisfeita.

Me aproximei então do primeiro posto de empréstimo de bicas, onde outros turistas igualmente entusiasmados se aglomeravam em busca de uma vermelhinha. Para nosso desgosto, as que estavam ali disponíveis estavam quebradas e não podiam ser emprestadas na ocasião. O português que tomava conta do local foi muito simpático e me informou que na parte central da ciadade certamente eu encontraria bicicletas para emprestar. Segui animada. Cascais sem dúvida é uma cidade charmosa, com pequenas ruelas e casas brancas, cheias de roupas penduradas em janelas e com um mar azul, lindo de doer os olhos. Quando cheguei ao segundo posto de empréstimo, olho com satisfação várias bicicletas enfileiradas, sorrindo, esperando por turistas felizes como eu. No posto, uma brasileira nada simpática que tomava conta do local  disse logo que me voluntariei a pegar uma bicicleta:  “Estão reservadas”. “Hum?” eu respondi sem acreditar muito. Sim reservadas para um grupo. Eram 15 bicicletas, lindas, vermelhas, brilhando sobre o sol e… reservadas. Bom, eu perguntei a que horas o grupo chegava e por quanto tempo estavam reservadas. Pretendia passar o dia todo em Cascais e não sairia de lá sem o motivo que me levou a chegar lá: andar de bicicleta.

Ela disse que não havia previsão. Não sabia que horas o grupo iria chegar e por quanto tempo iriam usar aquelas bicicletas. Tentei argumentar, até porque ela estava transformando meus anseios ciclísticos em um verdadeiro pesadelo kafkiano, mas não houve conversa. Expliquei sobre o blog, sobre o primeiro post internacional. Mas nada, absolutamente nada, comoveu aquela criatura, que provavelmente jamais foi de um país a outro só para andar de bicicleta.

Bom, se não tinha bicicleta, pelo menos, vamos as sardinhas, certo? Caminhei durante duas horas em um puta sol, olhando para a ciclovia, para aqueles turistas felizes e amaldiçoando a todos. Que injustiça seria aquela que só me restavam as sardinhas? Caminhei, comi as tais sardinhas que eram bem mais “salivativas” nos meus pensamentos e fui até o último posto, onde talvez existissem algumas bicas para emprestar.  Chegando no último posto, com os dedos dos pés e das mãos cruzados, novamente, nada de bicas. Voltei a caminhar rumo à estação de trem, dessa vez para a volta, chutando as pedrinhas do caminho. Inconsolável.

Na orla, porque acho que alguém teve dó de mim, avisto um loiro desses de cinema, olhando para o nada e me sorrindo convidativo. Eu, fingindo que não havia percebido aquele sujeito alto, loiro e forte, pedi para que ele tirasse uma foto minha e ele naturalmente o fez, além de puxar a conversa. Tratava-se de um sueco, chamado Peter, que trabalhava como consultor em uma empresa de petróleo. Passava alguns meses em diversas plataformas pelo mundo e seu lugar favorito o qual ele estava trabalhando no momento, era Cascais. Conversamos mais um pouco e eu, naturalmente, expus o meu drama ao sueco que sem titubear me disse que emprestaria sua bicicleta, se ela não estivesse quebrada. Achei que era alguma maldição.

Me despedi do sueco, continuei meu caminho ao lado da ciclovia, chutando pedrinhas, inconsolável. As 15 bicicletas permaneceram lá o dia todo e a brasileira irritante também. Olhei-as por mais algum tempo antes de partir, com a mesma irresignação que um cão vadio olha os frangos girando na grelha da padaria.

Peguei o trem de volta a Lisboa, quando o sol já ia se pondo. Voltei comigo pedalando sobre meus trilhos imaginários.

De bicicleta na Ciclovia da Marginal Pinheiros

A impressão de quem chega é que você está entrando em uma espécie de quartel general para bicicletas: um portão de grades metálicas e uma guarita controlam o acesso. Aceno para o funcionário que me olha de dentro do vidro e ele permite minha entrada para a as escadas.

Depois de encaixar os pneus em uma estreita canaleta de auxílio, escalo com a bike todos os degraus e ao final deles uma boa surpresa: a Marginal Pinheiros do alto! Quem não é acostumado com sua vista panorâmica, pode se encantar com o incontável número de carros que passam com velocidade e se perdem na extensão da pista, limitada num horizonte de viadutos. Olhando de cima, os carros, as pistas largas e o rio sufocado na poluição, enchem o espírito cosmopolita de qualquer ciclista de asfalto.

Ao final da passarela, antes de chegar finalmente à ciclovia, fico um pouco receosa: o passeio não cheira nada bem! E, ao julgar pela razão das narinas, a ciclovia da Marginal Pinheiros parece, num primeiro momento, um mico.

Mas tão logo desço as escadas da passarela, logo no ponto de partida (infelizmente a ciclovia conta apenas com 2 pontos de acesso) vejo vários capacetes, coloridos, ávidos por espaços quase sempre disputados com os carros nas vias regulares. Quem já sentiu o chiado do freio do ônibus ou uma buzinada de um taxista impaciente pressionando o seu pedal, certamente vai sorrir. Enfim vias livres!

Com o tempo bom ou sem chuvas na semana, depois de alguns giros, o odor desagradável vai diminuindo ao longo do caminho. Em alguns locais esse cenário pode mudar, mas de modo geral os 14 quilômetros da ciclovia te aguardam com bons ares.

O percurso conta com pontos de apoio para ciclistas com bancos para descanso, válvulas de encher pneus, bebedouros e até sprays, que são bem úteis nos dias de calor.

O trem que acompanha a paisagem não impede de perceber que São Paulo muda de cores e formas: quanto mais longe se alcança, mais baixos ficam os prédios, menos urbanizada é a paisagem.

Quem não usa bermuda acolchoada, não tem selim confortável ou suspensão na bike, pode se descontentar com as lombadas. Aliás, não encontramos razões óbvias até a conclusão deste post para a ciclovia contar com lombadas!

Além das lombadas, placas indicando a existência de capivaras (das quais encontramos somente rastros de cocô na pista) e placas solicitando a redução de velocidade nos dias de chuva, fazem parte do contexto curioso da ciclovia.

Os olhos podem se perder em linha reta. Um som no ouvido, a perna solta para girar e girar e girar. Talvez algo parecido com paz e algum mau cheiro. Famílias, speedys velozes, pessoas de todas as idades. Eu respiro fundo até onde o ar impuro me deixa : ai se toda a cidade pudesse ser assim…

Ciclovia Marginal Pinheiros

Horário de funcionamento – Diariamente das 6:00 5:30 às 18:00 18:30 horas.

A entrada pode ser feita pela estação Vila Olímpia da CPTM ou nas proximidades da estação Jurubatuba (Zona Sul) e também na Av. Miguel Yunes, na estação Santo Amaro e na Ponte Cidade Universitária. Fonte: CPTM (Atualização em 23 de Abril de 2013).