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De bicicleta, pela Ciclofaixa da Av. Paulista

A Prefeitura de São Paulo lançou hoje (02 de Setembro de 2012), com o apoio da Bradesco Seguros através do Movimento Conviva, a CicloFaixa de Lazer na Avenida Paulista. Com isto, o prefeito Gilberto Kassab retoma uma idéia antiga, da gestão da ex-prefeita Marta Suplicy – ter lazer para a população paulistana aos domingo em seu principal cartão postal. Quando assumiu a prefeitura, em 2005, José Serra interrompeu o projeto Domingo na Paulista, que contava com 76% de aprovação da população e chegou a reunir 35 mil pessoas. Segundo Caio Luiz de Carvalho, presidente do São Paulo Turismo na época do encerramento, o evento “agrada a poucos, prejudica muitos e agregava pouco à cidade”. Ele alegou ainda que o projeto gerava problemas no trânsito no entorno da avenida. Diante disto, é louvável que a Prefeitura volte a enxergar as vias públicas como um local de convívio entre pessoas, especialmente um local tão central, com salas de cinema, teatros, comércio, alimentação e outros serviços que a população pode aproveitar. Espero que José Serra não interrompa este projeto, caso eleito para a prefeito da próxima gestão.

A Avenida Paulista é, no entanto, também via de deslocamento para centenas de ciclistas que, de segunda a sexta-feira, utilizam este espaço para ir ao trabalho. Eu, a Helga, co-autora deste blog, entregadores, executivos, e tantas outras pessoas saímos de nossas casas todos os dias e somos vítimas de “finas”, aceleradas ameaçadoras e reclamações por parte de uma pequena parcela dos motoristas que entendem que estamos “atrapalhando o trânsito”. Quando estas ameaças são levadas às últimas consequências, temos homicídios como da Marcia Prado e da Juliana Ingrid Dias. Elas morreram em “dias úteis”, indo para o trabalho, na própria Avenida Paulista.

Daí surge a minha revolta e de alguns ciclistas, como deste que colou os cartazes das fotos. Ao passo que o governo toma medidas eleitoreiras, com as Ciclofaixas de Lazer, as pessoas que desafogam o trânsito e os transportes públicos não enxergam nenhuma melhora em seu benefício ou melhoras que incentivariam um número maior de pessoas a utilizarem a bicicleta de segunda a sexta. A jornalista Renata Falzoni compara a Ciclofaixa à política de pão e circo em post sobre o assunto. Ela enumera as razões de sua indignação, focada principalmente na inação do poder público de melhorar a estrutura cicloviária do município, mesmo diante da disponibilidade de orçamento para um plano de mobilidade. Ela cita também as ações amadoras, feitas às pressas, antes do lançamento das bicicletas compartilhadas do banco Itaú. Vale lembrar que  o primeiro plano para construção de ciclovias em São Paulo foi apresentado em 1981 pela Prefeitura e previa 174 km de faixas exclusivas para bicicletas. De lá para cá quase nada foi feito.

Hoje está cheio de palhaços na Avenida Paulista, contratados pelo Bradesco, patrocinador da Ciclofaixa. Nos outros dias, a avenida fica cheia de “palhaços” que tentam se locomover sem a segurança dos cones, dos muitos agentes da CET, dos fiscais da SPTrans, e com a velocidade máxima limitada a absurdos 60 km/h, sem qualquer fiscalização. Aos domingos o limite é de 40 km/h. Vida longa à CicloFaixa de Lazer.

 

OBS.: O risco de morte em um atropelamento por auto gira em torno de 30% quando a velocidade é de 40 km/h, porém cresce para até 85% se a velocidade de impacto for de 60 km/h. Uma das fontes é Vehicle Speeds and the Incidence of Fatal Pedestrian Collisions prepared by the Austrailian Federal Office of Road Safety, Report CR 146, October 1994, by McLean AJ,Anderson RW, Farmer MJB, Lee BH, Brooks CG.