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De bicicleta, para a praia

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Rod. Gov. Mario Covas / BR 101 / SP-055.

Andar por aí de bicicleta é uma delícia. Desde a volta épica de 200 e tantos quilômetros com o Igor Gabia, os vários Audax, as descidas da estrada de manutenção da Imigrantes, até descida pelos “proibídos” túneis da própria Imigrantes, a sensação de pegar uma estrada e chegar a qualquer lugar com a força das suas próprias pernas e gastando muito pouco é fantástica.

Confesso, contudo, que não fiz muito disto nos últimos temos. Com o aumento do número de bicicletas nas ruas e estradas elas passam a ser mais visadas, crescendo o número de furtos e roubos. Uma das rotas mais gostosas, que é o caminho para a praia pela Imigrantes, se tornou proibitiva. Relatos de grupos armados roubando ciclistas têm sido constantes. Recentemente o viajante Mate Trotamundo e sua companheira foram roubados na descida da serra de Santos, na altura da ponte estaiada e perderam bicicletas, materiais de campismo e outros equipamentos. Estes fatos e tentativa de roubo e morte do Igor me deixaram um pouco assustado mas, parafraseando o Pessoa, viajar é preciso e viver não é preciso. Nem sempre dá para ficar pensando nas consequências.

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Praia de Juquehy.

Sem planejar nada, no último final de semana antes do carnaval aproveitei o convite de um amigo para passar a semana na praia e decidi descer pela Mogi-Bertioga. Esta estrada parece ser mais segura, já que o fluxo de bicicletas ainda não é tão grande.

Saí de casa na manhã do Domingo, por volta das 6h30m. O plano era ir de Metrô até a estação da Luz, no centro de São Paulo, e de lá de trem até Mogi das Cruzes, cidade onde a estrada de descida começa. Não dei tanta sorte e o serviço estava interrompido. Fui até a estação Calmon Viana, na cidade de Poá, parte da Grande São Paulo. Com isso teria que pedalar 15 KMs a mais. Nada de mais. É uma reta só até Mogi e de lá a descida da serra. Ou quase. Estes 15 KMs são em

Altimetria.

Altimetria.

grande parte de paralelepípedos (e eu sempre de bicicleta de estrada, sem suspensão). Depois disto, os primeiros 20 KMs da Mogi-Bertioga são cheios de subidas e descidas, até que chegam os 20 KMs de pura descida e por fim uma reta que leva à Rod. Gov. Mario Covas, a BR 101 ou SP-055.

A descida é linda. Acima dos 55 KM/h o tempo todo. A bicicleta vira um avião. E de vez em quando a gente encontra motoristas sensacionais. Como não tem acostamento, desci todo o trajeto pela pista. O condutor do carro que estava atrás de mim manteve distância e não forçou a ultrapassagem em nenhum momento. No plano, ele acenou e eu sorri de volta na expectativa de que ele pudesse entender que aquela atitude dele tinha sido muito importante.

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Praia de Juquehy.

Chegar no nível do mar não é tanto um alívio assim. Ainda tem umas subidas e descidas, mas o acostamento na SP-055 é maior e cheio de ciclistas. Dá para ver a praia, as pessoas e seguir tranquilo.

Estava indo até Juquehy. 88  KMs na idéia inicial. Quase 105 KMs com a falta do trem até Mogi. Cheguei às 13h. Amigos na praia, cerveja gelada e a sensação incrível de ter voltado a pedalar na estrada, de ter chagado lá por R$ 3,00 e em muito menos tempo que os viajantes de Reveillon.

Barra do Una.

Barra do Una.

@renejrfernandes.

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De bicicleta, pela Castello Branco, ganhei o Igor

Rodovia Castello Branco. Outubro de 2011.

Rodovia Castello Branco. Outubro de 2011. Foto: Gilberto Kyono.

Eu conheci o Igor Gabia quando ele tinha ainda 16, quase 17 anos. Isso foi há cerca de 2 anos. Um pouco depois disso, em um dia qualquer de Outubro de 2011, o Gilberto Kyono me chamou para fazer um circuito de um dia, saindo de São Paulo pela Rodovia Castello Branco, em direção a Itu, de lá em direção à Rodovia dos Bandeirantes e por ela de volta a São Paulo, o que daria mais de 200 KMs.

Estávamos eu, o Gilberto, o Igor, a Natashe e mais dois conhecidos do Gilberto. Saímos de São Paulo às 7 horas da manhã, com a previsão de voltarmos até a noite.  Seguimos pela Vila Leopoldina, até a ponte mais próxima à entrada da Castello, para evitarmos qualquer trecho da Marginal Tietê e já começarmos onde o acostamento é mais largo. Tudo foi tranquilo na saída de São Paulo, apesar das entradas e saídas de veículos.

Com paradas para descansar e tomar água, fomos seguindo e vencendo a distância, até o KM 53. A câmara de ar do pneu do Igor furou e lá fui eu ajudar. Isso se tornaria a principal “marca” da minha amizade com ele. Neste dia até que não foram muitos furos, mas em um Audax, meses mais tarde, eu o ajudaria a trocar câmaras 5 vezes em pouco quilômetros, até que pedimos um pneu emprestado para o Richard Dunner, da organização da prova. Descobrimos então que era o próprio pneu que estava furando câmara, mas com isso nós dois seguimos sem mais câmaras reserva até o final, pois já tinham ido as 3 dele e as 2 minhas.

Depois da troca do KM 53 continuamos, almoçamos e quando escurecia estávamos quase em Jundiaí. Os conhecidos do Gilberto sugeriram que tomássemos, daquele ponto, o trem de volta a São Paulo. Já tínhamos pedalado mais de 150 KMs. Eu falei que não queria parar e o Igor logo se voluntariou a continuar comigo. Seria a primeira vez que eu iria passar dos 200 KMs e não queria perder a chance. Chegamos quase às 10 horas da noite, depois de outros 60 KMs, cansados, mas como já tínhamos pedalado mais de 230, ele sugeriu complicar e fazer a subida até a Paulista pela Av. Pacaembu. Fizemos, e um menino que ainda estava o ensino médio tinha me acompanhado na distância mais longa da minha vida pedalando.

Essa é só uma das lembranças boas. Tem muito mais. Tem muitos outros furos em que ele me ajudou. Tem muito tempo andando juntos nos Audax. Tem as vezes no final de tarde que eu estava voltando do trabalho e ele aparecia, do nada, pedalando ao meu lado na Paulista. E parece que esse menino é uma unanimidade. Uns tantos outros textos nas redes sociais, um post do Odir Züge e outro da Michele Mamede mostram um companheiro, de sorriso fácil e brincalhão, que todo mundo gostava.

No quilômetro 16 da mesma Castello Branco que pedalamos, o Igor foi embora. Sábado, 24 de Agosto de 2013, aos 18 anos, ele foi atropelado por um caminhão, ao cair na pista tentando fugir de dois assaltantes. Vou sentir saudades deste menino, não com a sensação de tê-lo perdido, mas de ter ganhado algum tempo ao seu lado.

Audax Holambra. Foto: Alexandre Tamashiro (China).

Audax Holambra. Foto: Alexandre Tamashiro (China).