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De bicicleta, na Lombardia

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Oratorio di San Biagio in Rossate – Foto: Rene Jose Rodrigues Fernandes

Há seis meses, exatamente, vim morar na Itália, mais exatamente no limite da zona metropolitana de Milão. A taxa de motorização do país está entre uma das mais altas da Europa, atrás só de alguns micro-estados como San Marino, Monaco, Liechtenstein,  Luxembourg e a ilha de Malta. Entre os países maiores, é a taxa de motorização mais elevada. E fale para um italiano de meia idade, de fora de Milão, que você não tem uma ‘macchina’ (carro)! A reação é uma grande cara de interrogação, logo seguida da pergunta “mas como você se locomove?”. Para alguns, é realmente incompreensível o fato de que as pessoas se deslocam [ou tentam se deslocar] com outros meios de transporte.

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Aquarossa, na Suíça. Foto: Rene Jose Rodrigues Fernandes

Nos primeiros dias aqui ainda estava frio e eu precisava procurar uma casa para alugar. Claro, a solução imediata foi um carro alugado. Apesar de dentro da cidade de Milão a disponibilidade de meios de transportes públicos ser gigantes, com metrô, trem, ônibus, bike-sharing (com estações e dockless), na zona metropolitana não é assim. Nem todos os municípios são servidos por transporte público abundante. Onde eu iria morar passa um ônibus por dia, bem cedo, de manhã. Para pegar outro ônibus, você tem que andar dois quilômetros e nem este é tão constante. Às 5 da tarde é o último horário para voltar do centro de Milão. E a estação de trem mais próxima fica a 6 quilômetros. E foi aí que eu percebi que, mesmo com uma taxa de motorização tão alta, a região da Lombardia, pelo menos, está preparada para a bicicleta. Escolhida a casa e entregue o carro, descobri que dá para percorrer quase todos os percursos do dia a dia por pistas segregadas (piste ciclabili in Lombardia). Do centro de Milão até em casa dá 20 quilômetros ou, mais ou menos, uma hora de percurso. Fazer compras, ir para a estação de tram, bar… Tudo acabou sendo feito em bicicleta e alguns aluguéis de carro esporádicos. Em Milão trem DriveNow e umas tantas outras empresas de aluguel de carro por aplicativo, que facilita bem as coisas.

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Pista ciclabile da província de Lodi. Foto: Rene Jose Rodrigues Fernandes

É claro que nem tudo é uma maravilha. Alguns trechos de ciclovia não são asfaltados e nos dias que chove acaba ficando com lama. Tem alguns trechos que as ciclovias fazem o trajeto mais longo, em comparação com o carro. Ou passarelas elevadas, como se fosse o ciclista quem tem motor… Enfim, foi um século de construção viária pensada para o carro e, em comparação com o Brasil, já está muito melhor. E tem alguns trechos sem ciclovias. Apesar do italiano andar sempre no limite da via, mesmo nestes trechos nunca me senti ameaçado. No mínimo, sempre me deram meia pista de distância (algo em torno de 1,5 metros). Apesar do carro, os italianos também são uns apaixonados pela bicicleta.

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Dizionario Italiano Garzanti, do bem antigos. Foto: Rene Jose Rodrigues Fernandes

@renejrfernandes

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De bicicleta, pela ciclovia da Av. Paulista

Uma semana antes da inauguração da ciclovia da Av. Paulista decidi dar uma volta por ela. Mesmo sem estar totalmente desobstruída, cruzei com vários ciclistas e um skate. Não houve conflito com pedestre. Nunca pedalei com tanta tranquilidade entre minha casa e o trabalho. Parabéns a todos os envolvidos no esforço de transformar esta cidade em um lugar mais “humano”.  O resultado está aí, em vídeo, para quem quiser ver.

@renejrfernandes

De bicicleta, gerando negócios


No último dia 24 de Novembro, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV/EAESP realizou a mesa redonda Empreendedorismo e Bicicleta, na abertura da Semana Global do Empreendedorismo.

O objetivo do evento foi mostrar como uma mudança de paradigma na mobilidade urbana pode fomentar a criação de novos negócios e a geração de emprego e renda, com a ampliação do uso da bicicleta. Alguns dados recentes mostram que, por exemplo, na Espanha, a bicicleta movimenta 1 bilhão de Euros por ano. No Reino Unido, a London School of Economics fala que este número é algo em torno de 3 bilhões de Libras. Um grupo de pesquisadores da Nova Zelândia, em seus estudos, confirmou que, com cada dólar investido em ciclovias segregadas, a cidade economiza pelo menos 24 dólares, reduzindo os custos com a saúde,  poluição e o trânsito.

O Brasil não tem ainda números exatos mas, segundo dados do MDIC, a importação de bicicletas no Brasil cresceu mais de 200% nos últimos 5 anos.

O Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV, que completa anos 10 anos de atividades em 2014, sempre se pautou por olhar a atividade empreendedora em quatro vertentes: empreendedorismo que cria um novo negócio (startups), o empreendedorismo social, o intra-empreendedorismo, ou seja, o empreendedorismo dentro das organizações e o empreendedorismo no setor público. A mesa redonda foi uma oportunidade de conhecer como cada vertente pode se relacionar à bicicleta. Entre os debatedores estavam:

  • Talita Noguchi, sócia-proprietária do bar e bicicletaria “Las Magrelas” e uma das organizadoras do festival feminista Desamélia. Ela contou como foi o processo da criação do negócio, a identificação da oportunidade e contou como foi o financiamento para a abertura da empresa, que contou com o apoio de uma rede informal de investidores;
  • Renata Falzoni, criadora do site Bike é Legal. Ela falou sobre o ciclistas como consumidor e contou um pouco do cicloturismo na Europa e como isso ajudou no resgate de regiões rurais abandonadas e;
  • Thiago Benicchio, envolvido na criação da ONG Ciclocidade e consultor do ITDP Brasil (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento). Ele evidenciou como o empreendedorismo também é importante no 3o setor e o relatou o processo que leva do ativismo, na Bicicletada, à criação de uma ONG.

A abertura do evento foi feita pelo Secretário Municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, que apresentou como estão sendo construídas as ciclovias na cidade, quais empreendimentos podem surgir e da necessidade do comerciante em mudar sua mentalidade e visualizar o ciclista como consumidor e aliado. O vídeo acima, com produção de Silvia e Nina, apresenta fala do Secretário.

PS.: A GloboNews recentemente também fez uma reportagem sobre o assunto, que pode ser vista em http://globotv.globo.com/globo-news/mundo-sa/.

@renejrfernandes